Mia senhora algures escondida
que, ainda assim, me adorna o peito em dor
e deixa em mim o sal dela vertida,
a lágrima comprida, o dissabor...
Não vede, sois essência de mia via vida
e morro qual perece o brio de ator
que atua sem sentir do aplauso o olor,
deixando-lhe escapar do punho a brida?
Senhora mia acuda o vosso servo!
Vós não ficastes, mas eis que ficou
a dor dessa saudade que conservo
enquanto o vil destino vos levou.
Em mim o ventre arde e não reservo
mais forças; a que tinha vos amou
com tanta gana e a força me deixou!
Mas vossa linda face, em mim, preservo...
Mia senhora vós fostes mui cedo
e eu, lacaio vosso, não consigo
seguir avante; sinto muito medo!
Sem vosso olor me sinto em gran perigo!
Periga, sim, findar meu pobre enredo.
Vós me dissestes: “-Sois amado e amigo”!
E respondi-vos: “- Sois mia vida e abrigo”!
E agora a mim restou só vil degredo...
Ronaldo Rhusso (Em Oitavas)