Versos livres ou versos brancos

Ironia...

Deslizo por entre esses cântaros
juntando-me ao vinho, o renovo,
a fim de espalhar alegria
em dia em que a festa, eis delida...

E o preço sei eu, pois paguei...

Querida tu vês esses pássaros?
Tu vês que já migram e é cedo?
Chegou para eles o dia
e finda-se a lida sofrida...

E nós nos sofremos ainda...

Mas amo também esse Lábaro
porque representa o bom Cristo,
Aquela inscrição luzidia
que a dor torna menos sentida...

E a sinto, portanto hei-me vivo...

Em teu coração, eis meu cárcere!
Não tenho temor de habitá-lo,
pois é para mim primazia.
É bênção, a mim, indevida...

Eu, robô?


Roboticamente me arrasto
e alastro o fecundo Universo.
Sou verso composto, sou Ode;
sou mais que a metade, o transverso!

Meu bip me alerta: eis a hora
de olhar na janela do tempo
e em tempo rever os conceitos
afeitos a ver meus defeitos.

Robô não magoa... E o que eu faço
com essa vontade tremenda
de rasgar a fenda da vida
e, enfim, machucar a mim mesmo?

Será que sou lobo e deu fome?
Será que o capim não sacia
o imenso vazio que provoca
e evoca pane em meu sistema?

Chilena...

Das Dores,
As cores mudaram, menina!
Horrores,
São só dissabores ou sina!
Desnuda essa tua euforia e me beija
E deixa pra ontem essa culpa sem pé nem cabeça!
Mulheres, como viver sem elas?
Se queres me bota pra fora na hora da tosse, da marca molhada...
Mulheres, como viver sem elas?
Se queres devolve meu gozo, me da o despejo e me afogo na tua rival!
Mistral! Mulher sem igual, a poeta do amor que é de mãe, que é demais, que é de mil!

Ӧ

Que diabo é isso? Isso é arte?
Deu a gota no Cubismo dele!
Ele pinta, ele esculpe ele.
Ele inventa um outro surreal!
Há que se cuidar que a formosura
jura que olvidada foi do tal!
Gênio é louco, gênio é pouco, é gênio!
Cá pra nós eu sou um ser normal...

Em Fado!

O Gordo beija e tchau...
Eu penso em Baudelaire,
nas flores que, do mal,
têm cheiro de atitude...

Agir sem mal também é bom.
Ou não?
Meu simbolismo agita a madrugada pobre, inválida...

O gajo do café me vem à mente.
O que rabiscaria em prol do traço simbolista?

Eu sinto ser o novo o plágio da quimera do passado.
Eu sinto ser enfado!
Eu sinto o ser em Fado...

Insanos...

Os homens correm reto,
Para baixo,
Para cima...
Correm do medo e correm por conquista espacial.
Se desconhecem tanto do planeta que destroem
Pra que a insanidade de explorar o inexplorável?

Gagarin viu com próprios olhos como a Terra é linda
e percebeu o azul que está ficando feio e cinza...

Trilhões são detonados!
Combustível para o nada.
Enquanto ainda se morre pela fome, sede, raiva...

Tristeza...

Esse desejo louco de ser D’us
apressa a vida ou morte por piedade?
Com que direito eu posso interferir
no ciclo que não posso controlar?

Os humanos nós somos, não esqueço,
mas penso que alguns somos animais;
não como os animais que são humanos,
mas como seres monstros, vis, letais...

Titan... Ihc (desculpe)!

Rá ta plam!
Plam, plam!
Plam, plam!
A belonave inafundável
raspou no gelo
e o casco lá deixou.
Ouvi dizer que foi a maldição,
mas D’us mandou piloto encher a cara?
Rá ta plam!
Plam, plam!
Plam, plam!
O mar gelado
o orgulho congelou
e quem sobrou
contou sua versão.
Foi um fiasco ou foi a maldição?
Pra Hollywood foi a redenção!

Carlitos...

Não vou dizer de teu talento,
do teu esmero pela arte
quando falar era impossível,
mas cada gesto era um poema...

Não vou falar que, pioneiro,
tu protestaste contra o feio,
contra a miséria do trabalho
que escravizava o corpo e a mente...

Não haverei de mencionar
de teu zombar de ditadores
que nos fizeram gargalhar...
E tu? Um mero vagabundo...

Eldorado em tinto sangue...

Melhor não ter e primar ser
do que ser tido pela terra;
desenterrar sonho dourado
e ser com ouro, oh! Soterrado...

Melhor a vida, ainda que dura,
do que dureza em terra viva
que vivifica ao adubar,
fertilizar quem ficou vivo...

Melhor não ir contra o mais forte
que ver a força ir se exaurindo;
que exaurir a própria vida
e não viver mais tempo exausto...

Chorar de rir faz bem, conforta.
Não há conforto em rir choroso;
o riso irônico da perda
de quem perdeu por ter ficado...

Monteiro...

Menina do nariz arrebitado,
dos olhos rasos d’água e de emoção
ao ver a bonequinha tão falante
filosofar com ele, o Visconde
De Sabugosa, coisas do Lobato!

O Presidente Negro, profecia?
Quem saberá dizer... Talvez acaso!
Vai ver foi nas Caçadas de Pedrinho
que lhe surgiu, de fato, a grande ideia
de juntar tudo em clássico Urupês!

Ou posse?

Na História há embustes, falcatruas,
discrepâncias que tornam-na atraente...
E as escolas repetem os enganos
No intuito de formar mais mentirosos.
Descobriram Brasil já descoberto!
Descobertos, os índios nem sabiam
que mais fria era a alma do enxerido!

Índio queria apito?
Índio prezava o grito?
Índio não quis conselho.
Índio não quis espelho...

E as naus abarrotadas regressavam
Contando a lucrativa “descoberta”
“Não cubramos a pátria que, pelada,
vai gripar-se com chuva de gulosos
e o catarro no peito jesuíta
vai mostrar ao índio como dói a tosse”...

Imortais por agora...

Ele nasce, ele morre...
Coisa louca, ó Julieta!
Vem pra mim e eu pra você.
Vamos morrer pr’esse mundo?
Vamos ver se a Eternidade
é verdade ou se deplora...

Ser ou não prefiro ter
um amigo Sancho Pança
que me siga lado a lado
em caçadas de moinhos...

Ser do que ter é prudente
se for pra ser melhor gente...

Presente de grego...

Entra soldado após soldado,
o inimigo dorme, em berço nobre
a flecha entra, fere, mata.

Presente nunca se recusa,
é feio, é meio de arruinar a paz.

Mas quem não quer ganhar um bom cavalo?

ONU

E as ventas resfolegantes de estadistas
que tratavam de aspirar ao olor da vitória planejada
podiam ser vistas, brilhantes, logo abaixo dos pelos
nos olhares cintilantes, sossegados na certeza
de que logo após seria fato a Nova Ordem Mundial...

Núcleo e o ar...

As cidades fantasmas planejadas
sob a anuência de um povo deslumbrado
que não questiona, não pensa no futuro...

Um botão apertado em hora errada;

um vazamento ínfimo e o desastre!

A cidade fantasma, inabitada
Chernobyl prova da estultícia humana.
Se os sem teto não querem lá voltar...

Secretária?

Sob Sol ou sob chuva ela lava.
Ela lava, cozinha e passa.
Passa o dia servindo a casa;
a casa que não vê o valor,
o valor do serviço dela.
Dela a falta só é sentida
se, sentida, ela não retorna...

Todos os dias...

Fosse fácil a função
de mudar modelo errado,
ensinar sina, outra sorte,
para alicerçar nação...

Fosse fácil a função
de dirimir toda a dúvida
e renegar a ignorância
para alicerçar nação...

Fosse fácil a função
para alicerçar nação
destravando a escravidão,
que algema a alma incauta...

... Venceria a Educação...

Donzela de Orléan!

Joana, Joana, para que tu foste à guerra?
Para que liderar tropas?
Só porque ouviste vozes?

Menina, menina, de onde tiraste a coragem?
De onde a ti veio essa força?
Não temias tu a morte?

Valente, valente, reinas tu na escuridão!
Jazem tuas cinzas castas
nas correntes do frio Sena...

Caymmi!

Cantava, encantava, fazia sambar...
Cantava na rima a menina e o mar.
Deitava na rede e na sede a sonhar
com água de coco, líquido manjar...
Cantava a sereia e envolvia ao cantar
a bela morena, a melhor do lugar:
Bahia de tanta história pra cantar...

Vamos chamar o vento, vamos chamar!
É doce, é doce, é doce morrer no mar!

O dengo que a nega tem quero provar...
É doce, é doce, é doce morrer no mar!

Incrível!

E Leonardo deu vinte, oh, deu tantas ideias
que nos dias de hoje ainda tem uns projetos
a tirar todo o sono em alguns arquitetos
que tentam entender essa mente brilhante...

No Vale...

Outra estrada pedregosa, meu Senhor!
Outra espada afiada e frio aço...
Tua volta faz-se muito necessária,
Pois periga que eu durma antes dela...
Não que seja grande mal pra quem Te ama,
Não que seja um castigar de Tua parte
Descansar jamais seria punição
Visto serem dias maus, esses de agora...

Eis-me aqui para voltar ao Campo, à ceifa!
Eis-me, ainda, um Teu soldado da Esperança...
Se quiseres nas sandálias do Evangelho,
Protegido pelo escudo bom da Fé,
Com o forte capacete que me Salva
E a espada do Espírito, a Palavra,
Envolvido na couraça da Justiça,
Haverei de dar trabalho ao inimigo
E levar de volta a Ti os Teus amados...


Se quiseres outra coisa, eu digo Amém!



"Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam." Salmos 23:4.

Mãe...


Esse frio que me congela nesse instante
assusta, dói, destroça desde a alma...
Parece endurecer minha medula
e desconcerta a fonte de pensar...
Eu sei: a lágrima adianta nada!
Tampouco me interessam sensações
que não mais sentirei, sou nau sem porto...
Eu tremo, convulsiono... E adianta?
Que nada! A morte é má e acerta em cheio.
E a fé? É por o pé sem ver o chão
e já não vejo esse chão faz tempo...
Mas ponho pé, cabeça, assim mesmo
porque eu sei em Quem eu tenho crido...

Ronaldo Rhusso

Voltaire...

Tu defendes tuas ideias
e eu defendo o teu direito
de leva-las adiante,
mesmo discordando delas.
Opressão pra que? Pergunto.
Liberdade é o que interessa
desde que seja exercida
sem o intuito de pisar
sobre o irmão, o semelhante!
Discordar só pra sentir
que venceu um oponente
é gozar o passageiro
e correr o sério risco
de passar por idiota!
D’us existe! É fato e é certo,
mas o homem inventou
um que lhe convenha sempre.
Para que poder de igrejas
contrariando Seu Cristo?
Desconfio estar perdido
nessa fila de coitados
Que desejam tanto o céu,
Mas que não querem morrer...

Consciência negra...

Qual a cor da consciência?
A minha é meio cinzenta!
Cor de burro quando foge...
É preciso ter ciência,
pois a mente quando é lenta
não permite que se aloje
a verdade nua e crua:
somos só a raça humana!
Negro, pardo e amarelo
tipo eu que sou branquelo!
Muda de endereço ou rua,
mas não tem pobre ou bacana
quando a vida se encerra...
Feliz de quem tem alguém
pra manda-lo pro além
sob sete palmos de terra...